segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

Quaresma 2007 - Tempo e Espiritualidade

Ainda não vai longe o Tempo de Natal e a Igreja convida-nos a viver a Quaresma. Os tempos sucedem-se e a Liturgia também não pára, como escola de Fé. A Liturgia tem dois grandes Pólos - Natal e Páscoa – com os respectivos tempos preparatórios. A Quaresma é o tempo litúrgico que prepara a Solenidade da Páscoa. Este ano será de 21 de Fevereiro a 5 de Abril, excluindo a Missa da Ceia do Senhor, que já pertence ao Tríduo Pascal. Surgiu esta tradição na disciplina da Igreja no Séc IV, após a “Paz de Constantino”, quando multidões quiseram fazer parte da Igreja. O nome vem do I Domingo da Quaresma, “Quadragesima die”, que significava 40º dia anterior à Páscoa. Facilmente foi associado também aos quarenta dias do Jejum e de Deserto vividos pelo Senhor, antes de iniciar a vida pública. Para dar certo o número de dias, pelo facto de nunca se ter jejuado ao Domingo, antecipou-se o início da Quaresma para 4ª feira de Cinzas e manteve-se a disciplina de não jejuar nos Domingos deste tempo.
A este Tempo litúrgico está associada a Penitência pública e o Catecumenado. A penitência, que caiu em desuso, mas ficou no Espírito do tempo quaresmal, como consciencialização do pecado, arrependimento e conversão (reparação do mal e emenda de vida). Recomenda-se a confissão ao menos uma vez em cada ano. Em São Miguel de Souto será agendada vicarialmente pelos sacerdotes dia 16 de Março às 15h e às 21h. O Catecumenado, como preparação para o Baptismo dos adultos, foi restaurado pelo Concílio Vaticano II, e permanece, não só para a respectiva preparação baptismal de adultos, como espiritualidade recomendada a todos os cristãos que renovam as suas promessas baptismais na Páscoa, nomeadamente na Vigília Pascal. Para esta vivência exercita-se a prática do Jejum, da esmola e da oração, como ascese cristã, a Leitura da Palavra de Deus e a Caridade fraterna, pela partilha sincera. Estas práticas são também recomendadas a todos nós, nesta Quaresma.
A prática penitencial, para ter um carácter comunitário, continua a ser recomendada nomeadamente pelo Jejum e pela abstinência. Embora já não sejam significativos os actos para muitos cristãos, continua a ser recomendado o jejum (não comer e lembrar os que passam fome) para os cristãos dos 18 aos 59 anos, excepto por dispensa médica ou por outra causa que seja de força maior, na Quarta feira de cinzas e Sexta feira santa. E também é recomendada a abstinência de carnes (ou outros alimentos ou gestos com maior significado) para os maiores de 14 anos. Mantém-se também o contributo penitencial, oferta que é fruto das nossas renúncias quaresmais, cuja finalidade é destinada pelo Senhor Bispo, e destina-se sempre à caridade ou a actos de beneficência.
Na liturgia tudo é sóbrio, desde a cor roxa dos paramentos, até à supressão do aleluia no canto e dos instrumentos musicais, excepto para acompanhamento, e de todos os gestos festivos, nomeadamente as flores e os adornos.
Faço votos que possa ser para todos um tempo de profunda conversão pessoal e de maior comunhão e adesão a Cristo.

O Pároco.

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

Amor... passado e presente!

O dia de S. Valentim, mais conhecido como o dia dos namorados, vem aí! Por isso, fui questionar três jovens casais, um casal com quase quatro anos de namoro, um casal com vinte e três anos de casamento e outro jovem casal com “apenas” cinquenta e oito anos de vida em comum!
Comecei por questionar como foi o início do namoro as diferenças foram notáveis!! Antigamente, as pessoas conheciam-se em bailes ou em festas (exemplo: festa de S. Miguel) enquanto que, actualmente, as novas tecnologias (como a Internet e os telemóveis) prevalecem e são um meio importante de transmissão de mensagens de Amor! O namoro é o ponto de partida para a “viagem do amor”, é uma forma de se conhecerem melhor e decidirem se querem ou não assumir o compromisso perante Deus – o Matrimónio. Antes não havia liberdade quase nenhuma enquanto que, agora, há liberdade a mais! Segundo o casal mais experiente, antigamente existia mais respeito pois eles namoraram durante quatro anos e nem um beijo deram!! Quanto ao dia de S. Valentim... não existia! Apenas o casal mais jovem o vive com mais intensidade, apesar de o considerarem um dia igual aos outros, a verdade é que o marcam pela troca de lembranças entre ambos. Antigamente, os dias em que os namorados se encontravam eram as quintas e os Domingos, agora, todos concordam que, o dia dos namorados é todos os dias, pois o dia 14 de Fevereiro “é mais um dia no ano em que comemoramos o amor que sentimos um pelo outro” (Fábio).
Relativamente à questão sobre o matrimónio, o casal (que está mais próximo das Bodas de Prata!) referiu que o sonho de ambos, homem e mulher, ao casarem-se foi a construção de uma família. Casaram-se porque se conheciam bem, pois “estávamos um para o outro como o ‘testo para a panela’” (Manuel Tavares). O matrimónio é mais uma etapa na vida de um casal. É e será (para os mais jovens) um dia único, relembrado por todos, em que, se juntam desde familiares a amigos, para testemunharem o compromisso que o casal assume perante Deus. Assim se inicia uma vida a dois, em que cada um dos elementos do casal, lutará por uma família unida e Feliz. Contudo, nem tudo é um ‘mar de rosas’, o matrimónio tem altos e baixos, muitas rosas e muitos espinhos! Como diz a senhora Rosa, “casa que não é ralhada não é governada”! Mas tudo se ultrapassa quando se gosta verdadeiramente um do outro.
Quando não se ultrapassa vem o divórcio. Antes também haviam separações mas em muito menor número pois as pessoas sujeitavam-se e toleravam tudo. Agora, infelizmente, há pessoas que se casam já a pensar no divórcio, palavra que antes nem sequer existia no vocabulário!
Existe alguma diferença entre o “AMOR” de antes e o de agora? Foi mais uma das pergunta à qual responderam que o Amor é único e é sentido de forma diferente, mas esta diferença não é relativa ‘ao antes e ao agora’ e sim ao facto de todos nós sermos diferentes, de pensarmos e sentirmos de forma diferente.
Outra questão referia-se aos aspectos necessários para que o matrimónio seja sinónimo de FELICIDADE. Pelo que referiram ser essencial, em primeiro lugar duas pessoas, depois a tolerância, paciência, diálogo, fidelidade, afecto, amizade, compreensão e, principalmente, amor... muito AMOR!!! Amor este que não se descreve, sente-se.
Assim, termino este artigo com três mensagens dos três casais entrevistados para todos os jovens que iniciam ou já iniciaram uma vida a dois!

“Que, se tiverem amor um ao outro, se casem com RESPEITO entre ambos e que tenham a consciência que vão encontrar muito obstáculos.” (Senhora Rosa e senhor Francisco)

“Jovens, vivei o AMOR com muita intensidade, lutai para que aumente cada vez mais. Não o deixeis diminuir pois pode ser o fim da relação. Há momentos bons, momentos menos bons e até há maus momentos, mas se fordes fortes o amor nunca acaba. Com diálogo e compreensão, juntos, não deixeis cair o amor!” (Ana Alzira e Manuel Tavares)

“Coragem...! aproveitem as coisas belas da vida, sendo uma delas o namoro, não parem de sonhar, pois o sonho comanda a vida e está a um passo da FELICIDADE!” (Cátia e Fábio)

Aborto: decisão consciente.

Este assunto é delicado. Existem vários caminhos a seguir. Várias hipóteses a serem colocadas. Convém ponderar todas.

Ora bem, pode-se afirmar que o aborto é condenável. É crime. É uma violação ao direito da vida! Pode-se argumentar que a irresponsabilidade dos pais não pode culminar na morte do próprio filho. Ao votarmos a favor do aborto estamos a votar a favor do crime, a favor do assassínio, sendo assim com que direito punimos os assassinos e não quem pratica o aborto? É a mesma coisa, um assassino ou uma mulher que pratica voluntariamente o aborto merecem ser punidos de alguma maneira. Por isso digamos sim à vida.

Outro caminho é o seguinte: Será legítimo punir uma mulher porque “foi obrigada” a fazer um aborto? Podem haver vários factores que levam uma mulher a esta prática. Entre os quais uma violação. Mas não será melhor que uma mulher, ao ser forçada – sim, porque ninguém faz abortos por prazer! – a abortar, o faça num lugar seguro. Onde o risco de vida da mulher seja minimizado? Então porque não se legaliza? A punição é ridícula.
Já é castigo suficiente para uma mulher fazer um aborto. Para quê condená-las? Por isso se deveria legalizar…

É na mulher que vão cair as maiores consequências dos seus actos, seja a nível físico seja a nível emocional. Por mais que um homem esteja envolvido nunca poderá ter o mesmo tipo de sentimentos. Por isso esta discussão, quase sempre liderada por homens que nada sabem sobre este assunto, é uma falsa questão e as mulheres mais do que ninguém devem levantar-se e lutar pelos seus direitos. Direito de escolha, direito de ter uma decisão como esta suportada legalmente, sem que tenham de passar pelas mais horrendas experiências de aborto clandestino.

Quer se concorde ou não com a despenalização do aborto, a sua posição é irrefutável. Este assunto deve ser tratado com ética, como um problema social, mas com uma dimensão moral que tem que se ter em conta.
Só a sua posição, a sua experiência de vida, o seu senso poderão ser levados em conta neste referendo. Não se deixe levar pela política, pela religião ou por outro factor qualquer que lhe venha do exterior.

Politizar esta questão é condenável e só mostra falta de capacidade política.

A propósito do referendo: D.José Policarpo - Grande Entrevista (25 Jan)

O cardeal-patriarca de Lisboa admitiu ontem que o "sim" à despenalização do aborto poderá sair vencedor do referendo de 11 de Fevereiro. "O 'sim' tem possibilidades de ganhar, tal como o 'não' também tem. Tenho um grande desejo de que o 'não' ganhe, mas não faço prognósticos", disse D. José Policarpo numa entrevista à RTP."As missas não são lugar de campanha", afirmou o cardeal, demarcando-se das "declarações menos felizes" de alguns membros da Igreja portuguesa, nomeadamente a comparação entre a prática de um aborto e a execução de Saddam Hussein. Estas declarações, na sua opinião, "correm o risco de desajudar, na medida em que aumentam a confusão", e só podem ser "fruto do calor desta campanha"."O nosso papel deve ser muito sereno", disse D. José Policarpo, reiterando as tradicionais posições da Igreja Católica na rejeição total ao aborto - oposição que se estende à lei de 1984, hoje em vigor. "Sob o ponto de vista moral, a Igreja não pode concordar com a actual lei", sublinhou.A proposta de despenalização que irá a referendo a 11 de Fevereiro, no entender do patriarca, "cria um atentado contra a vida". Daí a posição que a hierarquia católica vem revelando, apesar de D. José Policarpo ter chegado a prometer que a Igreja se manteria à parte da campanha. "Tirar a vida, seja de quem for, não deve ser transformado num direito", acentuou o cardeal, entrevistado por Judite Sousa. A despenalização total defendida por Marcelo Rebelo de Sousa na RTP - "com surpresa minha", confessou o cardeal - é inviável, pois "não é possível despenalizar sem legalizar".